N. 62 – 2019/1 Democracia e Políticas Públicas

APRESENTAÇÃO

Uma das marcas indissociáveis à caminhada da Igreja Católica do Brasil, são, sem sombra de dúvidas, as Campanhas da Fraternidade (CF). Nascidas no ano de 1962, como uma iniciativa da Arquidiocese de Natal (RN), então sob o pastoreio de Dom Eugênio Sales, as campanhas foram, a partir de 1964, assumidas pelo conjunto do episcopado brasileiro e, desde então, marcam não apenas o tempo de Quaresma, mas um espírito que perpassa a atividade pastoral durante todo o ano.

De 1964 a 1972, as temáticas das campanhas deram ênfase à dimensão interna da Igreja. Era o tempo pós conciliar e o grande desafio era reconstuir uma Igreja como espaço de comunhão e participação.

A partir de 1973, impulsionada pela Conferência de Medellín e desafiada pela realidade de opressão política e econômica, a Igreja passou a dar atenção a temáticas prementes da realidade brasileira. Com isso, as CFs, passaram a ser símbolo, além de renovação eclesial, também de compromisso social dos cristãos.

Neste ano de 2019, o tema escolhida é “Fraternidade e políticas públicas” e mantém seu duplo viés. Por um lado, quer chamar a atenção para a necessidade de o Estado, coadjuvado pela sociedade civil, assumir sua responsabilidade de garantir os direitos fundamentais a todos os brasileiros. Por outro lado, a campanha também quer lembrar aos cristãos que o compromisso de ser discípulos-missionários inclui também o engajamento dos cristãos na transformação da sociedade. Ser missionário incluir, além de anunciar a Boa Nova de Jesus, também o de torná-la concreta em todos os âmbitos da sociedade.

Repercutindo os desafios da CF 2019, este número de Cadernos da ESTEF traz, em sua sessão temática, um ensaio de Frei Sérgio Göergen sobre o futuro das sociedades democráticas. Olhando a realidade ampla das sociedades ocidentais e, mais concretamente, da realidade brasileira, pergunta-se Frei Sérgio: “É possível a convivência entre democracia política de massas e ditadura econômica controlada por minorias? É possível exercício real da democracia participativa com níveis indecorosos de injustiças e desigualdades sociais? São possíveis estados democráticos sem sociedades democráticas? Como construir sistemas educacionais e informativos que promovam cultura de participação e decisão democrática?” Perguntas que todos aqueles e aquelas que se preocupam pela relação entre fé e compromisso social se colocam e gostariam que fossem respondidas positivamente. Na sua argumentação, o autor também responde positivamente, mas, como podemos ver no texto, tal resposta esperançadora coloca exigências que somos convidados a construir.

Num segundo texto que foca especificamente sobre o tema da CF 2019, Frei Wilson Dallagnol estabelece uma relação entre políticas públicas e Doutrina Social da Igreja. Através desta argumentação vemos que o convite da Igreja ao engajamento social dos cristãos não é uma inovação novidadeira, mas faz parte da mais autêntica tradição cristã e católica.

Em seguida, em nossa sessão franciscana, Frei Nestor Inácio Schwerz nos oferece o primeiro de três artigos em que estabelece um diálogo entre a tradição espiritual franciscana e a Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate do Papa Francisco. Neste primeiro texto, Frei Nestor aborda o problema da terminologia ao falar do assunto e, em seguida, mostra a emergência da sede por espiritualidade em nossos dias e seus desafios. Por fim, delineia os principais traços da proposta de espiritualidade e santidade do Papa Francisco na GE, aproximando características da santidade e espiritualidade de São Francisco de Assis. Aguardamos, desde já, a publicação dos dois próximos artigos nas edições futuras dos Cadernos da ESTEF.

O segundo texto, de Frei Rondinele Passos, aborda, desde a perspectiva franciscana, um dos grandes problemas econômicos e ecológicos da atualidade: o consumismo. A partir da experiência de Francisco de Assis, o autor demonstra a incompatibilidade entre a cultura consumista e a tradição franciscana.

Na terceira sessão de nosso caderno, dois temas importantes e cada um a seu modo. A partir de uma visita aos testos fundantes da tradição judaica e da tradição cristã, o professor Carlos Rodrigo Dutra mostra a continuidade entre as duas tradições dada pela memória do passado e pela projeção do futuro presentes tanto na tradição judaica como na cristã.

No outro texto, Frei Miguel Debiase aborda um tema que tem sido, na reflexão teológica e pastoral na América Latina, objeto de tantas propostas e igual número de controvérsias: o método pastoral. Depois de visitar alguns dos principais representantes desta discussão, Frei Miguel, a partir do capítulo sexto do Evangelho de João, apresenta uma sintética proposta que pode servir de base a futuros desdobramentos e novas proposições neste campo.

Além dos artigos que compõem este número, uma peculiaridade que queremos chamar a atenção, é a da série de crônicas aqui apresentadas. Elas trazem presente eventos realizados na ESTEF ou em outras instituições e que tiveram a participação de estudantes e professores de nossa escola. Estas crônicas fazem a memória da vida e dos intercâmbios que perpassam o nosso fazer teológico.

A todos e a todas, uma boa leitura.

ARTIGOS DESTA EDIÇÃO

DEMOCRACIA E POLÍTICAS PÚBLICAS
O FUTURO DAS SOCIEDADES DEMOCRÁTICAS – Sérgio Göergen
POLÍTICAS PÚBLICAS E ENSINO SOCIAL DA IGREJA – Wilson Dallagnol
FRANCISCANISMO
ESPIRITUALIDADE E SANTIDADE HOJE À LUZ DE GAUDETE ET EXSULTATE E DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS – Nestor Inácio Schwerz
FRANCISCANISMO E CONSUMISMO: DUAS VIVÊNCIAS INCOMPATÍVEIS – Rondinele Augusto Teixeira Passos
DIVERSOS
TRADIÇÕES E RITOS DE PESSACH E DA PÁSCOA CRISTÃ – Rodrigo Dutra
METODOLOGIA PASTORAL. UM ENSAIO A PARTIR DE JOSÉ COMBLIN – Miguel Debiasi

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